Quotas-partes dos direitos imobiliários e as suas mais-valias

Os direitos imobiliários podem ser confusos para muita gente, e ainda mais confuso o cálculo da mais-valia para cenários complexos como vamos ver a seguir. Entre direitos de usufruto, direitos de raiz ao direito de superfície, todos estes têm métricas e regras a cumprir para sabermos efetivamente quanto é que cada proprietário tem na sua posse.

 

Este artigo serve como um guia acessível, mas tecnicamente sólido, sobre os principais direitos imobiliários e como a distribuição de quotas-partes influencia a tributação, a valorização e o cálculo da mais-valia.

 


Acompanha o artigo com o excel para que não te falhe nada!

 

O que são direitos imobiliários?

Ao contrário da ideia comum de que quem “tem um imóvel” o possui por inteiro, o direito de propriedade pode ser partilhado e segmentado em diversas formas. As quatro mais comuns são:

  • Nua Propriedade: o direito de ser proprietário, sem poder usar ou usufruir do bem.

  • Usufruto: o direito de usar e fruir do bem, mesmo sem ser o dono legal.

  • Direito de Superfície: permite construir num terreno alheio, ficando proprietário da construção.

  • Direito de Uso e Habitação: permite residir num imóvel ou usá-lo para necessidades pessoais, sem o poder de o rentabilizar ou transferir.

Estes direitos podem coexistir e ser detidos por diferentes pessoas. Cada titular detém uma quota-parte associada ao seu direito. E é precisamente essa quota-parte que serve de base para o cálculo da mais-valia em caso de venda ou transmissão.

 

Para uma visão mais profunda dos direitos imobiliários, visita o artigo “Artigo que vem esclarecer todas as nuances dos Direitos Imobiliários

 

Cálculo das quotas‑partes: Usufruto, De Raiz e Superfície

1. Usufruto - cálculo pela idade

O valor do usufruto não é constante: varia de acordo com a idade do usufrutuário. Embora o Código do Imposto do Selo não fixe tabelas, peritos e notários recorrem a tabelas práticas, que associam uma percentagem ao direito de usufruto conforme a idade.

Exemplo prático:

  • Imóvel avaliado em 300 000 €.

  • Usufrutuário com 45 anos → coeficiente ~0,55.

    • Valor do usufruto = 300 000 × 0,55 = 165 000 €

    • Nua‑propriedade = 300 000 − 165 000 = 135 000 €

No Excel, multiplicas o valor do imóvel pelo coeficiente definido por faixa etária. Assim, garantimos um cálculo transparente e fiável, facilmente compreendido e interpretado pelo utilizador.

 

2. Propriedade de Raiz (Plena)

Na aquisição da propriedade plena (“de raiz”), não há divisão de quotas entre usufruto e nua‑propriedade — és, simplesmente, proprietário com pleno direito de posse e fruição. A quota‑parte é, neste caso, 100 %.

Exemplo prático:

  • Compra direta de um imóvel por 200 000 €

    • Nua‑propriedade = 200 000 € (100 %)

    • Não há usufruto, logo nenhuma outra quota a calcular.

No Excel, basta registar na quota‑parte do proprietário “100 %” e associar o valor total do imóvel. Simples e direto.

 

3. Direito de Superfície - cálculo pela duração

Este direito permite construir num terreno alheio durante um período determinado. A quota‑parte é calculada linearmente com base na duração:

  • 1 ano = 1 %,

  • 50 anos = 50 %,

  • 100 anos = 100 %.

 

Adicionalmente, de acordo com regras fiscais, para imóveis temporários aplica-se uma dedução de 10 % do VPT do solo por cada bloco de 5 anos, até um máximo de 80 %

Exemplo prático:

  • Terreno com VPT total de 100 000 €.

  • Direito de superfície temporário de 20 anos, deduz-se 40 % ao VPT do solo.

    • VPT solo = 100 000 − 40 000 = 60 000 €

    • VPT do direito de superfície = 100 000 − 60 000 = 40 000 €

No Excel, aplica-se uma fórmula:

= (C87/100) * VPT_total

onde C87 indica a duração em anos (1‑100). Ainda poderás integrar a dedução automática por blocos de 5 anos para VPT do solo, conforme regras fiscais, simplificando tanto para cálculos fiscais como para apresentações dos resultados.

 

Como funciona o Excel de cálculo de mais-valias?

Para facilitar este processo, foi criado um ficheiro Excel interativo que permite:

1. Inserir os diferentes titulares e respetivos direitos

Podes introduzir até 15 proprietários, indicando:

  • Nome

  • Idade

  • Tipo de direito (Nua Propriedade, Usufruto, Superfície, etc.)

  • Quota-parte associada a cada um

2. Verificar se as quotas somam 100%

  • O Excel valida automaticamente se a soma de todas as percentagens atribuídas é exatamente 100%.

  • Caso contrário, surge uma mensagem de aviso a alertar para possíveis erros:
    “As percentagens dos proprietários não totalizam 100%, voltar a confirmar quotas de todos os proprietários.”

3. Calcular o valor de referência consoante o tipo de aquisição

  • Heranças, aquisições e doações têm regras fiscais distintas.

  • A célula C4 permite escolher o tipo de aquisição. O Excel adapta-se automaticamente e indica se o valor de referência deve ser:

    • “Valor patrimonial” (Herança direta)

    • “Valor do imóvel na doação” (Herança de terceiros)

    • “Valor de aquisição” (Compra direta)

 

Porque é que isto importa?

A correta identificação e atribuição das quotas-partes tem impacto direto:

  • Na tributação da mais-valia em IRS

  • Na forma como se partilham os lucros de uma venda

  • No valor de transmissão em caso de herança ou doação

  • Na negociação de compra e venda entre co-proprietários

 

Conclusão

A distribuição das quotas e o entendimento dos direitos imobiliários não são apenas detalhes jurídicos, são ferramentas estratégicas no planeamento patrimonial e investimento.

Com o apoio deste ficheiro Excel, investidores e proprietários podem tomar decisões mais fundamentadas, evitar erros fiscais e garantir que os seus interesses estão corretamente representados.

O investimento começa no conhecimento. E compreender os direitos e quotas-partes é o primeiro passo para transformar um imóvel num verdadeiro ativo.

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