O fundo de emergência para um empresário – Quanto devo ter na conta?

Quando somos empresários, dormir descansados deixa de depender só de boas ideias ou lucro mensal. Depende muito de ter liquidez suficiente para aguentar choques inesperados. Ter clientes a atrasar pagamentos, um imóvel vandalizado, aumento de custos ou um juro de empréstimo que sobe, tudo isso pode apertar se não tivermos uma almofada financeira. Vamos ver o que significa este indicador, como medir, quanto deve ser o fundo, e como varia consoante o tipo de negócio.

 

O que é liquidez empresarial e os indicadores importantes

Liquidez é basicamente a capacidade que uma empresa tem de pagar o que deve a curto prazo sem recorrer a empréstimos externos ou esvaziar tudo. Dois conceitos que ajudam a entender:

  • Ativo corrente vs passivo corrente: quanto de coisas que se transformam em dinheiro relativamente rápido (caixa, contas a receber, estoques) comparado ao que temos de pagar em breve (fornecedores, salários, dívidas de curto prazo).

  • Rácios de liquidez como liquidez corrente, liquidez reduzida (onde se excluem as mercadorias ou os ativos menos líquidos) e liquidez imediata (o que temos disponível agora, comparado ao que temos de pagar a curto prazo).

Estes indicadores permitem perceber se a empresa está vulnerável a ruturas de tesouraria ou se consegue aguentar atrasos nos recebimentos ou imprevistos nos pagamentos.

 

Quanto deve ser o fundo de emergência de um empresário

Não há um valor universal certo, mas há boas regras práticas. O fundo de emergência é uma reserva de liquidez extra, para emergências, separada do resto da tesouraria.

Alguns critérios para definir o montante:

  1. Despesas fixas mensais da empresa
    Inclui salários, energia, seguros, manutenção, impostos habituais.

  2. Prazo médio de recebimento dos clientes + prazo de pagamento a fornecedores
    Se a empresa tem clientes que pagam a 60‑90 dias, precisa de mais liquidez para cobrir esse “vazio”.

  3. Negócios com sazonalidade forte, custos fixos altos ou dependência de poucos clientes devem ter reservas maiores.

Com base nisso, recomenda-se que o fundo de emergência empresarial seja equivalente a 6 ou 12 meses de despesas fixas, para negócios moderados. Em casos de maior risco ou dependência de clientes com prazos longos, pode subir para 12 a 18 meses.

 

Exemplos realistas para perceberes melhor

Exemplo 1 – Empresa de construção média

José possui uma empresa de construção especializada em obras residenciais. Os custos fixos mensais são: salários + custos operacionais de equipamentos + seguros + contas de eletricidade e água: suponhamos que isso dá 20.000 €/mês.

  • A estimativa que temos é que os clientes pagam normalmente a 90 dias após o início das obras.

  • Alguns equipamentos têm de ser mantidos sempre. Se houver atraso, a empresa continua a ter custos.

Para esta empresa, José deveria ter um fundo de emergência com valor mínimo de 120.000 €: pelo menos 6 meses de despesas fixas. Se esperar atrasos maiores ou alguma crise (por exemplo redução de encomendas), o ideal seria garantir os 6‑12 meses.

Se tiver só 20.000 € guardados, uma avaria no equipamento ou atraso de pagamento pode obrigar a recorrer a crédito ou atrasar salários, o que pode deteriorar relações com fornecedores ou trabalhadores.

Exemplo 2 – Sociedade imobiliária de arrendamento com vários imóveis

Maria e Paulo têm uma sociedade imobiliária com arrendamentos de imóveis residenciais. Os rendimentos são razoavelmente regulares, mas há custos fixos: IMI, manutenção, seguros, algum financiamento de empréstimos. Digamos que as despesas fixas médias são 5.000 €/mês.

  • Muitos arrendamentos têm renda certa; poucos clientes a pagar com atraso, mas há sempre eventuais obras que surgem (infiltrações, eletrodomésticos danificados etc.).

  • Também tem alguns empréstimos com prestações mensais e taxas variáveis.

Neste caso, um fundo de emergência de 15.000‑30.000 € (3‑6 meses) pode bastar para cobrir surpresas sem pôr em risco a operação. Se houver possibilidade de grandes intervenções ou desocupação prolongada de imóveis, talvez seja prudente estar mais próximo dos 6‑9 meses, ou até 12 em casos extremos.

 

Boas práticas para gerir o fundo de emergência

  • Separar esse fundo da tesouraria corrente. Ter uma conta ou aplicação com acesso rápido, de preferência com capital garantido.

  • Revisitar o valor regularmente: se as despesas fixas aumentam, ou se adiciona um imóvel ou despesa nova, o fundo deve subir.

  • Não usar salvo em emergências, não para luxos ou expansões antes de assegurar a base.

  • Monitorizar indicadores financeiros: rácio de liquidez corrente, prazo médio de recebimentos, e ainda reforçar o fundo caso seja necessário.

 

Conclusão

Para um empresário, ter um fundo de emergência não é luxo, é prudência. Se o negócio for estável, com despesas moderadas, 6 meses de despesas fixas pode ser suficientemente seguro. Se for negócio com custos fixos elevados, dependência de clientes ou sazonais, então convém olhar para os 12 meses, talvez mais.

No fundo, é uma questão de equilíbrio entre risco e conforto. Um fundo demasiado pequeno pode deixar a empresa vulnerável, um demasiado grande pode significar capital parado que poderia estar a gerar retorno. O ideal é avaliar realisticamente o teu negócio, os custos fixos, prazos médios e definir um valor que permita reagir sem pânico se algo inesperado acontecer.

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