Como lidar com obras ilegais?

Comprar ou investir num imóvel com obras ilegais acarreta riscos, mas também, em alguns casos, oportunidades. Com as recentes mudanças no Simplex e a evolução do mercado, torna-se essencial conhecer as estratégias para lidar com essa situação de forma informada e segura.

Desde o início de 2024, o Decreto-Lei 10/2024 (“Simplex do licenciamento”) permite comprar imóveis sem a licença de utilização durante o contrato de compra e venda.

O problema:

 

Imóveis com obras ilegais entram no mercado sem que o comprador seja obrigado a analisar a documentação.

 

Riscos e oportunidades

  • Pode existir a necessidade de demolir partes do imóvel se as obras forem identificadas como ilegais, e os bancos podem recusar o financiamento sem licenciamento legal.

  • Proprietários com obras não licenciadas estão frequentemente dispostos a negociar preços e condições, dado que enfrentam pressão para legalizar ou a dificuldade em vender.

 

Financiamento de imóveis ilegais

  • Sem licença, o crédito habitação é quase sempre recusado.

  • Se houver um projeto de arquitetura compatível com o existente, que possa ser apresentado à câmara para licenciamento, alguns bancos analisam a concessão de financiamento.

 

Prolongar o CPCV

Se as obras ilegais estão em processo de legalização:

  1. Assinar um CPCV com prazos longos, dando tempo para o licenciamento, de forma que a escritura ocorra já com uma certeza de que o imóvel irá ser legalizado.

  2. Formalizar o projeto com um arquiteto, para proceder à legalização.

  3. Após aprovação, avançar com a escritura sem impedimentos.

 

O papel do arquiteto

  • Para a emissão da licença de habitação, é sempre necessário o papel do arquiteto.

  • Para edifícios anteriores a 1951 não é necessário um arquiteto para a emissão da licença de habitação. Basta o proprietário ou um procurador pedir à câmara uma certidão que certifique o imóvel de que é anterior a 1951 e portanto, isento da licença de habitação.

  • Se o objetivo for eliminar as obras ilegais, então será necessário demolir ou realizar novo licenciamento.

  • Para o novo projeto ou ajustado, o arquiteto formaliza o estado existente e propõe correções inferiores ao que está construído ou planeado.

  • O prazo estimado para este processo é de 6 a 12 meses, em casos sem situações anómalas.

 

Procedimentos passo a passo

  1. Consulta ao PDM e verificar a viabilidade e restrições do imóvel.

  2. Perceber o histórico do imóvel e examinar processos anteriores com autorização do proprietário ou via procuração.

  3. Elaborar e submeter o projeto para licenciamento.

  4. Demolir ou ajustar estruturas conforme aprovado.

  5. Obter licença de utilização e atualizar a situação no registo predial.

 

Ilegalidades mais comuns

  • Extensões ao edificado sem licença

  • Ligações irregulares à rede de esgotos e águas pluviais

  • Pés-direitos inferiores aos legais

Esses aspetos tornam a legalização vital para evitar custos adicionais com demolições ou modificações forçadas.

 

Nota: Para extensões de edificação inferiores a 10 metros quadrados, então a ilegalidade enquadra-se numa Escassa Relevância Urbanística, e portanto, não será necessário obrigatório legalizar o edificado ilegal para obter a licença de habitação.

 

Conclusão

Imóveis com obras ilegais podem ser comprados, mas é necessário grande rigor:

  • Avalia os riscos geográficos, legais e financeiros.

  • Negocia com vantagem, devido à predisposição do vendedor.

  • Prevê um plano claro de legalização, com arquiteto e prazos realistas.

  • Só avança com crédito e escritura quando houver sinais de licenciamento definitivo.

Essa abordagem informada permite transformar um imóvel problemático num ativo legal, valorizado e financeiramente seguro.

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