Queres contratar mas não sabes que impacto isso pode ter na tua empresa

Decidir contratar colaboradores pode parecer um passo natural quando o negócio cresce, seja contratar um comercial para procurar ou lidar com as leads ou um operacional para aumentar a produtividade e eficiência do negócio.

Mas essa decisão traz custos fixos adicionais e implica riscos, especialmente se for feita sem planeamento financeiro. Antes de assinar contratos e abrir novas vagas, vale refletir:

Será que a empresa aguenta?

Vamos ver os fatores chave e como avaliar se a contratação compensa ou emperra as finanças.

Por que contratar parece uma boa ideia… ou não

Contratar colaboradores geralmente é visto como investimento: mais mãos, mais capacidade operacional, mais rapidez nas obras ou gestão dos imóveis. Podem trazer receita direta (ex: comercial, angariação, vendas) ou indireta (gestão, manutenção, back‑office). Mas novos colaboradores significam:

  • salários e encargos fixos mensais, mesmo que nem sempre gerem rendimento imediato;

  • custos adicionais: formação, onboarding, possíveis equipamentos, responsabilidades sociais/fiscais;

  • pressão sobre o fluxo de caixa e tesouraria;

  • aumento da estrutura de custos, o que exige mais receita ou mais eficiência para compensar.

Sem controlo, o que começa como planeamento de crescimento pode tornar-se um peso fixo perigoso.

Indicadores que deves analisar antes de contratar

Antes de contratar, é fundamental olhar para a saúde financeira da empresa e fazer algumas contas. Aqui estão cinco indicadores que eu considero essenciais analisar antes de contratar:

• Cash‑flow operacional

Refere‑se ao dinheiro que a empresa gera com a sua operação regular (recebimentos de clientes menos pagamentos de custos operacionais). Se esse cash‑flow for positivo e suficiente, significa que a empresa consegue suportar pagamentos contínuos. Se estiver apertado, contratar pode gerar falta de liquidez.

• Tesouraria líquida (caixa disponível)

A tesouraria dá conta de quanto dinheiro “disponível” a empresa tem, ou seja, o que sobra depois das contas correntes. Mesmo com bom cash‑flow, se não houver liquidez, pode faltar dinheiro para salários ou imprevistos. É um colchão essencial, sobretudo num negócio imobiliário, onde pagamentos e atrasos são comuns.

• Margem ebitda (ou lucro operacional antes de impostos, juros, depreciações e amortizações)

O EBITDA mede a eficiência operacional do negócio, isolando variáveis como impostos ou amortizações, e dá uma visão clara do lucro “real” gerado pela operação. Se a margem é boa, a empresa já tinha capacidade de gerar retorno, o que favorece a assunção de novos custos com pessoal sem comprometer a gestão.

• Rácio de gastos com pessoal sobre vendas / receitas

Este rácio ajuda a entender quanto do faturado está “comido” pelos custos fixos de pessoal. Se estiver muito alto, contratar mais pode desequilibrar a estrutura de custos. Se estiver controlado, existe espaço para crescer sem apertar margens.

• Produtividade (ou receita/resultado) por colaborador

Este indicador mede quanto cada colaborador, em média, contribui para as vendas ou resultados da empresa. Também há métricas externas equivalentes, como “receita por colaborador” usada para avaliar eficiência. Antes de contratar, convém estimar realisticamente o que o novo colaborador irá produzir e em quanto tempo.

O “investimento” por trás de uma contratação

Contratar não é só assinar um contrato, representa um investimento da empresa. Há custos diretos (salário, encargos, benefícios) e indiretos (formação, adaptação, supervisão). Há ainda o tempo de adaptação. Muitas vezes, um novo colaborador demora meses até atingir produtividade plena. De facto, estudos mostram que empresas pequenas podem demorar vários meses para “rentabilizar” um novo funcionário.

Se a empresa não considerar este “período de arranque”, pode juntar despesa fixa (salários) sem entrada extra suficiente, o que aperta o cash‑flow e pode comprometer liquidez.

O que pode mudar (para melhor ou pior) quando contratas

Quando decides contratar, o impacto pode variar de forma significativa:

Benefícios possíveis:

  • Aumento da capacidade produtiva (mais obras, mais imóveis geridos, mais clientes).

  • Crescimento das vendas se o colaborador for um comercial, gestor de clientes ou responsável por angariação.

  • Melhoria operacional se o colaborador aliviar sobrecarga de equipa existente, menor risco de atrasos, erros, falhas de manutenção.

  • Potencial de crescimento sustentável se a empresa consegue manter cash‑flow positivo e produtividade.

Riscos e consequências negativas:

  • Aumento da despesa fixa mensal, se os novos colaboradores não geram receita rapidamente, a tesouraria pode ficar comprometida.

  • Redução da margem operacional se os custos aumentam sem correspondente aumento de vendas.

  • Maior sensibilidade a oscilações de mercado: obras adiadas, atrasos no pagamento de clientes, períodos de vacância podem pesar se a estrutura de pessoal for pesada.

  • Se não houver planeamento financeiro, a expansão da equipa pode levar à necessidade de financiamento ou endividamento, ou mesmo à falência em cenários adversos.

Como decidir com critério se deves contratar e quando

Para evitar decisões precipitadas, aqui vai um mini‑roteiro de análise antes de contratar:

  1. Revê os teus relatórios financeiros: cash‑flow, tesouraria, margem operacional, resultados recentes.

  2. Estima realisticamente o custo total anual do novo colaborador (salário, encargos sociais, custos indiretos como equipamento, formação).

  3. Estima qual será o retorno esperado: receita adicional, poupança de custos, aumento de produtividade, e em que prazo.

  4. Projeta o impacto no cash‑flow e na tesouraria: faz um exercício “se os novos colaboradores demorarem X meses até produzir receita”, como fica a liquidez?

  5. Análise de sensibilidade: imagina cenários adversos (atrasos, menos vendas, custos extra) e verifica se a empresa aguenta.

  6. Se houver incertezas, considera contratar por fases: começa com 1 colaborador, analisa impacto e só depois avança para mais.

Conclusão

Contratar colaboradores pode ser um grande passo em frente para o crescimento da tua empresa, mas não deves fazê‑lo por impulso nem por excesso de optimismo. Antes de contratar, deves olhar friamente para os números, projetar cenários e garantir que a empresa tem margem de segurança.

Todos os indicadores (cash‑flow, tesouraria, margem operacional, produtividade por colaborador) são ferramentas que te ajudam a decidir com critério. Quando usados com cuidado, aumentam a probabilidade de crescimento sustentável. Quando ignorados, podem transformar uma oportunidade em problema.

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